domingo, 9 de abril de 2017

O que está contecendo com as empresas da economia tradicional? (ou: O Jogo de Pedra, Papel e Tesoura!)

Por ser integrante de uma importante companhia de tecnologia de informação e que provê a infraestrutura de TI de grandes empresas brasileiras (e do mundo!), não posso negar que acompanho com atenção o momento disruptivo que vive a adoção de tecnologia nas corporações, bastante influenciado pelo que se chama de Transformação Digital.

Os bons historiadores dizem que a melhor forma de entender uma determinada fase ou evento é fazê-lo, não no momento em que ocorre, mas posteriormente, sem o calor e a emoção daquele momento. Infelizmente, para quem vive de negócios, não é viável esperar tanto tempo. Precisamos entender - da melhor forma possível - que disrupção é essa e como podemos tirar proveito dela.

Observo diferentes personagens do mundo de TI, principalmente, que advogam os benefícios da transformação digital no mundo. E são benefícios muito sedutores, como alguns exemplos bem propagados: (1) em vez de pagar caro por corridas de táxi, por que não usar o Uber, prático, seguro (?) e a menor custo; (2) não pague caro por serviços de agência de viagem ou de reservas de hotel, se você pode usar serviços como o Booking.com; (3) compre seus produtos na Amazon, que trará preços melhores e entrega rápida, sem precisar sair de casa; (4) não use mais os serviços de sua companhia telefônica, pois você pode fazer chamadas usando o WhatsApp. São benéficos, sem dúvida, e dão maior poder de decisão ao consumidor, que até recentemente tinha pouco poder de escolha.

Existe, no entanto, um problema prático que é consequência dessa transformação digital (não só dela, pois no Brasil há também um crise econômica importante, que resulta, hoje, em mais de 13 milhões de desempregados) e que os evangelizadores da nova onda digital não abordam. Tal consequência, explico também com exemplos: quando o consumidor beneficia-se do uso do WhatsApp em detrimento do serviço de telefonia de uma operadora, ele paga menos, o WhatsApp não tem grandes ganhos de receita, embora, também o seu custo adicional seja mínimo, mas a operadora de telefonia perde receita e, sem saber como reagir, corta custos (estou falando de empregos) para manter sua lucratividade; se uma rede de supermercados ou de eletroeletrônicos perde receita pois suas vendas caem, enquanto as receitas da Amazon aumentam, a consequência é que essas redes decidem cortar custos (novamente, os empregos), para não perder lucratividade, enquanto a Amazon aumenta suas receitas e mantém empregos em algum bem longe daqui.

Não sou contra a transformação digital, que dá poder de decisão ao cliente e que barateia nossos custos em determinados serviços. Ela é um movimento que não se para. Veio para ficar! Mas não é algo que melhora instantaneamente a vida das pessoas, pois ela dá alguns benefícios, como o poder de decisão ao cliente, mas ajuda a tirar empregos. Aí, eu penso: a pessoa tem o poder de decisão, mas não tem dinheiro no bolso para fazer a compra. Irônico?! Esta minha afirmação só se torna errada se as empresas tradicionais, que são as que empregam as pessoas, entenderem como lidar com essa concorrência das start-ups digitais sem apenas ficar cortando empregos. E minha observação pessoal é de que elas - as empresas tradicionais - ainda não sabem fazer isso!

Em um treinamento que fiz na ESPM, no final de 2016, sobre Design Thinking (http://www2.espm.br/cursos/espm-sao-paulo/inovacao-design-thinking), com o excelente Luis Alt (https://www.linkedin.com/in/luisalt/), ouvi uma história muito interessante. Dizia ele, que o jogo entre empresas tradicionais e start-ups é como o jogo de pedra, papel e tesoura, em que as empresas da economia tradicional são o papel, que constantemente têm partes - mesmo que pequenas - podadas pelas tesouras (start-ups) e que as start-ups, quando crescem, tornam-se pedras, que precisam lutar contra o papel, para não ser engolidas, e nem perder para as start-ups mais jovens. É um jogo de soma-zero, pois a economia não cresce (eu acho que ela decresce, por conta da perda de poder aquisitivo de (des)empregados!), apenas mudando de mãos.

Permanece a questão: que tipo de transformação as empresas tradicionais têm que implementar para absorver a transformação digital sem serem vilipendiadas? É preciso tornar a crescer. Mas como?

Um abraço. Alexandre Goularte (Gula)
 

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