segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

BRICS: India ou Brazil, quando o assunto é serviços de TI?

Na preparação que fiz para minha primeira visita de negócios à India, em fevereiro de 2017, resolvi que iria registrar o máximo sobre o que observasse, visto tratar-se de um país com o qual o Brasil compete, quando o assunto é o de serviços de TI.

O Brasil compete coma  Índia em relação a serviços de TI? Compete, claro. Mas está preparado para ser um concorrente à altura? Minha observações iniciais levam a pensar que não estamos à altura.

A Índia não é um país organizado, limpo e estável como países de primeiro mundo (Reino Unido, Suécia, Estados Unidos, França, Canadá, Austrália, e por aí vai). Você anda pelas ruas e sente-se mal, pela sujeira, pela pobreza e pela desorganização (o trânsito é o melhor exemplo). Mas notei que eles têm diferenciais importantes em relação ao Brasil, que devem facilitar os negócios, sob o ponto de vista dos executivos do primeiro mundo - aqueles que decidem de onde contratar os serviços de TI nas multinacionais.

Na Índia fala-se inglês com muito mais naturalidade que no Brasil. E não é só nas empresas. Ao pegar um táxi no aeroporto e no hotel, ao ir a um restaurante, lá muitos falam inglês. Claro que se você pegar um uber na rua, grande chance do motorista não falar inglês. Sei que o sotaque é horrível, mas no Brasil não seria diferente. Só que no Brasil, fala-se em inglês somente nas empresas e também não é nenhuma maravilha.

A questão da segurança também me pareceu interessante. No meu primeiro dia na Índia passei por 4 detectores de metal, tanto no aeroporto quanto no hotel. Em alguns aeroportos há inúmeros soldados portando fuzis AK47. Eles têm uma situação delicada por lá, por causa de receio de terrorismo, mas no Brasil, onde não há terrorismo porém a violência é grande, você anda pelo aeroporto e não vê um simples aparato de segurança. É abandonado, mesmo!

A infraestrutura de aeroportos, vôos, transporte, telecom também é diferente. O Brasil está atrasado e não tem hoje uma política para resolver esse atraso. Aliás nem sei qual ministério nosso poderia encampar ações para resolver isso: Transportes, Telecomunicações, Trabalho? Todos são operados por ministros incapazes, que estão de olho somente nos benefícios políticos e financeiros da cadeira onde sentam.

Por fim, a questão de formação técnica é um ponto em que, embora o Brasil não seja ruim, a Índia é melhor. Para entender isso, basta consultar os números sobre a quantidade de engenheiros ou doutores que a Índia forma anualmente.

O problema da Índia, no entanto, quando os serviços de TI são discutidos é que eles não estão preparados para implementar serviços de qualidade para países como o Brasil. Aparentemente, eles têm foco maior em seus serviços para países de primeiro mundo e deixam o terceiro mundo com pouca prioridade. Isso abre a porta para provedores locais que endereçam realmente os pontos fracos de serviços globais prestados a partir da Índia.

Mas há um outro lado da moeda: não adianta somente esperar que serviços contratados da Índia sejam bons ou reclamar que são ruins. É preciso compreendê-los e fazer o melhor uso deles. Se a onda de offshore se instala no Brasil, alguns poderão diferenciar-se por melhor usar os serviços de TI via offshore e outros ficarão reclamando da qualidade, sem entender realmente o que está acontecendo.

Agora, um último fator que me chamou atenção na Índia, comparando-a com o Brasil: os indianos parecem muito dispostos a fornecer serviços de offshore de TI. É uma questão de determinação do setor privado e do setor público! Muitos empregos são garantidos por conta dessa determinação. Não vejo a mesma determinação, de forma ampla, no Brasil. Esses caras são concorrentes do Brasil. Deveríamos aprender com eles, antes de batê-los como nossos concorrentes. Mas nem iniciamos a fazer isso.

Pedro Malan, um economista renomado no Brasil escreveu em sua coluna, no jornal O Estado de São Paulo, de 12/mar/2017, sobre a necessidade do país lidar com três grandes desafios: o seu alto grau de urbanização e crescimento demográfico; a falta de infraestrutura física (energia, transportes, telecomunicações); e a falta de infraestrutura humana (educação, saúde e segurança). Mas o Brasil não está lidando com esses desafios, diferente da Índia, que depende venalmente de alguns deles e explora o crescimento demográfico e a urbanização a seu favor. 

Obrigado por seu tempo!